Brilha quando foge

Disponibilidade: Brasil/Europa

o menino
foi estudar pedras
porque queria saber
das coisas exatas
mal sabia ele
que dentro da pedra
mora o silêncio
que habita a reza

(Geologia, pág. 20)

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_sobre este livro

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Um poema não é a construção mais sólida do mundo, é só uma construção falível como todas as outras, mas brilha quando foge e encantados corremos entre estes poemas e mudamos de casa, de país, de roupa, de corpo, de idade, de nome, de exílio, e atravessamos o mar, a cidade, a floresta, a via láctea, e vamos, de Belo Horizonte ao Japão, sem cartografia definida, sem geologia definida, sem dinastia.

Há neste livro uma necessidade de viagem, de mudança, de procura, de descoberta, mesmo com Bogotá adiada até hoje, há atenção aos detalhes, a toalha de mesa, o pescoço do cisne, o peixe vivo nos lábios, há cuidado com o significado das palavras; coração é uma palavra que não se usa em vão e há cuidado com as consequências dos gestos porque se sabe que há sempre um dia seguinte.

Há uma ideia de construção, de resistência, quase de revolução; o mundo poderia ser um lugar melhor, um lugar silencioso que dispensasse as palavras, mas o mundo não é um lugar silencioso e esta poeta não recusa o seu ofício cantante e porque foi à guerra dá-nos lições da guerra, e não, não quer dar lições de guerra, dá-nos poemas e deixa de aviso que o poema nem sempre cumpre aquilo que promete; dá-nos os poemas em cinzas, porque a vida também é assim, nem sempre cumpre o que promete, porque a vida também brilha quando foge.

E protegida por persianas esta poeta vê como o mundo exige um esforço diário, paciência e urgência, a dose certa de esquecimento, de tentativas desvairadas, de melancolia e de ironia, a dose certa de perguntas, que coloca com contundência e ternura porque não abdica do presente, não abdica do futuro, não abdica do humano. E protegida por persianas esta poeta deixa-se ver a recolher os corpos, a suturar as feridas.

Uma poeta com uma escrita delicada, mas precisa, segura e vulnerável; sim, os poetas são inevitavelmente paradoxais, aos quais não se inibe de colocar andaimes, de usar picaretas, de acender a luz, de criar raízes, de ser mulher, de ser casa, de ser desassossego, de usar os limites da folha, de compreender os rinocerontes, de mostrar a sua devastação, a devastação do mundo, com um alfabeto próprio, ritmo e formas próprias, no garimpo do silêncio.

Depois dos poemas o silêncio.

Uma poeta brilha quando foge. Júlia Zuza

Raquel Serejo Martins

 

_outras informações

idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5 cm
páginas: 68
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2019
edição: 1ª edição

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