Abrupto

Disponibilidade: Brasil

quem levanta os montes depois de mortos? quem ergue o eixo
que faz respirar? quem derrama suas fezes sobre um povo, corrói
seus novelos e ergue um punho

sobre
nós

está ali às cegas
tateando infinitos em praça pública
mil sóis em utopias
e amores

R$45,00

_sobre este livro

o tempo corre veloz por dentro desses dias de espessura incalculável. daqui da sala de casa, ouço a mistura de sons que vem dos apartamentos vizinhos. a trilha sonora intermitente parece coincidir com o ritmo da minha leitura de abrupto. justaposições. versos que terminam de repente. nessas notas suspensas paira uma alegria inusitada.

inês nin escreve como quem enxerga fotogramas. tem algo de poeta-cineasta. faz montagem experimental. divaga e enxerga ângulos imprevistos de luz. seu pensamento gera um atrito, uma pulsação que ocorre em deslocamento. capta os eventos em suas escalas e impactos variáveis. inês percebe a vida que ocorre antes das formulações corriqueiras. acessa a atmosfera, em casa, na praça pública, e reconhece o “instinto/de alguma coisa/(existir)/alguma coisa/que seja/viva/respire”. contra o neoliberalismo, “abriremos terrenos”.

chegar é menos interessante do que (se) fazer mover, como se mercúrio saísse por aí com uma curiosidade atenta, flutuante, ainda que em travessias breves (tudo que gostaríamos de fazer agora). o deslocamento talvez seja aqui uma espécie de impulso perceptivo ou modo de rearranjar os minutos, os dias, os acontecimentos, “para que se formem/ novas memórias/e campos de ação”

a “investigadora crônica” diz o que soubemos esquecer. faz perguntas sutis: “um arbusto/tão sereno/que tudo percebe”. inês expõe as condições sob as quais escreve. o corpo é tessitura coletiva: “multidão-livro, multidão-blusa, multidão-multidão e categoria nenhuma”. com “desejos de nomadismo e floresta”, busca se perder, talvez “a única coisa que há”. aponta modos de continuar pelas brechas, também atenta ao que irrompe: “não ter tempo é não dispor de si mesmo”.

se ocorre algum perigo entre um passo e outro, o movimento impede a queda, ou, ao menos, refaz as conexões e as membranas. inês favorece os encontros — “nunca parar de dançar”. descrever algo num tom de quem fala pode ser um modo imprevisto de reler e reconfigurar os sentidos alojados ou gastos demais. percebe as “pequenas ervas cheirosas” e o “amor/afáveis ligaduras”. persiste por meio dos experimentos caseiros ou das performances cotidianas, saberes situados para contrabalançar o excesso de abstração. abrupto deixa o acaso fazer sua bruxaria. poesia é também política.

luiza leite

_outras informações

isbn: 978-65-87076-92-8
idioma: português
encadernação: brochura
formato: 14 x 19,5
páginas: 56 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2020
edição: 1ª

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