Diario dun pirata confinado

Disponibilidade: Brasil/Europa

Amenceu asollado, respírase un ambiente a campamento
de verán. Un can pasea o seu dono polo Home Santo, un
peregrino perdido contempla en silencio a catedral. Nun
restaurante baleiro, catro paisanos recollen un pedido de
comida para levar. Vinte e sete cañas despois, abandonan o
local sen o sándwich mixto. O protocolo de confinamento
comeza de xeito normal.

(Día 1 de confinamento / 14 de marzo)

R$60,00

_sobre este livro

As crónicas teimam em apresentar o pirata como um tipo sem escrúpulos, que bebe fabulosas quantidades de rum e apenas confidencia com o papagaio que se apoia no seu ombro. O tapa-olhos pode ser um adorno, como o brinco na orelha, ou um pretexto para concentrar todo o seu poder visual num único ponto e assim melhor calibrar as intenções alheias porque, caso de ter uma eiva, o pirata seria manco ou arrastaria uma perna de pau. Males do ofício. Ninguém sabe com certeza se o pirata é um romântico que canta canções de amor na borda do navio, mas tudo indica que um marginal como ele nunca escreveria um diário, essa literatura de senhoritas que, de maneira despudorada, decidem publicar a sua intimidade como se ainda fosse permitido falar. Em tempos de pandemia revelar o privado é proibido, como caminhar pelas ruas ou visitar cantinas. Em tempos de pandemia também não é permitido andar com a cara descoberta, nem estar perto d@s demais, abraçar ou tossir; nem sequer é aceite rir. Muito antes da pandemia já não era permitido pensar.

Porém, longe do Caribe, afastado dos estereótipos do cinema ou da literatura, o pirata humaniza-se. Perde os traços do malvado e instala-se a viver na Ilha da Utopia. A Utopia não esta livre de ameaças, visíveis e invisíveis, e o tal pirata tem de abandonar a pilhagem e  começar a recitar como um filósofo tristemente sóbrio, em luta por conservar a alegria ainda no caos, a distrair-se com enredos que talvez só tenham sucedido na sua cabeça. Ou talvez não.

O pirata, dizem, é um tunante e, portanto, adora misturar verdades com mentiras. O pirata, dizem, é descarado e, para desempenhar o perfil de malandro que lhe está encomendado, cumprimenta o polícia com um Rambo que soa a puro desacato. O pirata é tão desavergonhado que constrói com as faturas aviões de papel para os lançar sem tocar a quem bateu na sua porta. Desde que nos instalamos na Era da Obediência, desde que o medo ocupou as nossas vidas, o pirata tornou-se numa espécie em extinção. Se antes reinava nos mares, agora só pode sair a comprar fraldas e outros artigos de bebé porque, com certeza, ele canta canções de amor para a Arela e para a Ía. No caminho, entretém-se com qualquer viandante e anota no seu caderno de campo verdades como punhos sobre o desamparo e a injustiça. O pirata humanizado não rouba, mas não por causa dum código moral estrito ─ ele detesta os códigos todos, embora a incontornável utilidade deles ─ senão porque ainda sente maior aversão pela propriedade: nem deseja fazer seu o que é d@s outr@s, nem precisa de muita riqueza; prefere os prazeres frugais. Porém, se tivesse que roubar, iria fazê-lo, respondeu quando lhe perguntaram e, devemos acautelar-nos contra a sua ameaça porque, seguramente, tentará roubar-nos um sorriso cúmplice enquanto debulha o pequeno mundo do seu confinamento.

Mudou o rum pela cerveja e leva o país de Libertária tatuado nalguma parte escondida do corpo. Não se preocupa com a maneira em que outros guiem os seus barcos, mas detesta a hipocrisia e, nunca perdeu a perna em combate, só a mordaça. Porque, por muito que o vejamos nas ruas de máscara posta, o pirata é um insolente. Neste ponto, a palavra insolência ─ do latim in-, ‘não’, e solere,  ‘ser habitual’ ─ demanda uma análise profunda: é uma dessas palavras onde, ao tirarmos o in-, não conseguimos nada com jeito. Porquê é que existirá a insolência e não existirá a solência? Talvez porque o in-solente se comporte duma maneira peculiar, ao ser capaz de gritar aos berros o que habitualmente não é pronunciado. Nesse caso, os solentes seriam os medíocres, as ovelhas que repetem o acostumado. O pirata, é claro, não é uma ovelha. Desfruta da sua insolência. Reconhece-se aí.

Não é surpreendente, então, que lermos o diário dum pirata confinado seja abrirmos uma janela nos muros que nos contornam, desenharmos um orifício de fuga, uma via para escapar duma época que nos arrebata as opções enquanto o tiquetique do relógio continua a correr; enquanto o nosso tempo escapa, gastando-se duma maneira que sentimos estéril.

Tive a fortuna de ler este diário nos dias do segundo confinamento, o chamado perimetral, que inclui conceitos assustadores como o toque de recolher, com o seu ar bélico, ou as ameaças de multa por inocentes reuniões familiares. Tive também o privilégio de que o pirata me confidenciasse os seus episódios de confinamento, só aparentemente minúsculos, antes de os fazer públicos, o que me outorga o magnífico papel de ser a sua papagaia-amiga nesta história. E, aprendi com ele de insolência, de maneira que apenas me resta confessar que tenho no meu computador guardada esta história numa versão que não me obriga a pagar direitos de autor; uma dessas versões irreverentes e mágicas que a cultura tem adotado sempre, e mais em tempos complicados, para circular livre: uma deliciosa versão pirata.

Teresa Moure
A Cacharela, novembro do ano maldito Jamas

_outras informações

isbn: 978-65-5900-026-5
idioma: galego
encadernação: brochura
formato: 12 x 16,5
páginas: 256 páginas
papel: pólen 90 gramas
ano de edição: 2021
edição: 1ª

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